Só a Bailarina Que Não Tem

Lembra-me o balé. 
Quando essa era a única coisa que eu gostaria de fazer, e se possível, dançar perto de lugares onde tivesse água. 
Era leve, puro, exótico, assustador, misterioso. Era eu. E por algum motivo, eu o esqueci. Mudei meus pensamentos, tirei a dança da cabeça. 
Não lembro quando isso aconteceu, mas hoje, eu percebo que simplesmente aconteceu. As melhores sensações se perderam de mim, ou em mim, e eu não lembro como isso aconteceu.
 Hoje eu só tenho retratos em forma de desenhos.
Carregar a lembrança, é como carregar a história que foi real, mas que hoje não se enquadra dentro da minha realidade. 
É como se fosse um filme, que passou e hoje eu só posso reproduzir, como se não passasse de um roteiro, ou de um cenário.
Leveza, delicadeza, liberdade, radicalidade, extremos, questionamentos, aprisionamentos, força, são coisas difíceis pra mim. 
Porque quando eu vivo algo relacionado a isso, eu acabo sempre me barrando com um padrão já estabelecido, que me faz perder a força pra buscar um desses sentimentos. 
E então, eu sinto o desabamento, o desmoronamento, e por algum tempo (horas) eu fico me sentindo vazia, como se não tivesse nada pra viver, nada pra contar, nada pra sentir. 
E ai, eu durmo. 
Antes de dormir, acabo pensando em alguma história, idealização, fantasia, todas criadas por mim. Parece algo mais interessante do que dormir. 
Quando acordo no outro dia, parece que o que eu sentia sobre o que estava me incomodando, se misturou com a história que eu pensava antes de dormir, e parece que ambas se transformaram num sonho, que acaba, no momento em que eu acordo. 
E se perde, como as tantas outras coisas que assim, se foram.
Eu sempre ficava pensando no que a noite dominava pra atrair a atenção e o comportamento de tantas pessoas, inclusive o meu. 
E ai, chego a conclusão que a noite é feita para que as pessoas pudessem viver e sentir o que elas jamais poderiam ter ao amanhecer. 
Então eu imaginei que a noite domina o final. O fim. 
Já que o amanhecer traz o recomeço, a noite é o fim. 
As pessoas buscam por um fim, para que possam recomeçar depois. 
Assim como eu, que dou um jeito de transformar meus sentimentos em histórias fantasiosas, para que estas possam chegar a noite, e então, ter um fim. 
E no outro dia, não existe mais sentimentos. 
Porém, existem as imagens, as lembranças, os vídeos, gravações, e o desenho. 
Que passa a ser a única recordação de uma vivência transformada em fantasia, que se perdeu.

Eu sinto falta da realidade dos desenho, assim como outros momentos. 
Eu sinto falta de acreditar que a leveza do balé perto da água, fosse a única coisa que eu gostaria de fazer na vida, porque lá, eu conseguia me sentir, lembrar e ser lembrada por isso. 
Eu sinto falta de acordar sentindo alguma coisa.

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