Sou fã de escutar - O Início. O Meio. E o Sempre

Enfim, PSICOLOGIA ?

Passado.
Durante o meu ensino médio, estudei em um colégio de grande nome e bons resultados, visto como um dos melhores da capital, e de fato, era [é]. Apesar de ter sido um dos melhores anos e épocas já vivenciadas por mim, foi também um momento de divisor de águas em vários âmbitos.
Era 2011, ano do meu vestibular. A equipe, constituída por professores, psicólogos, coordenadores etc, concordaram que haveria quinzenalmente, uma palestra com algum profissional de áreas aleatórias, em que iam até os estudantes do terceiro ano, num espaço adequado, para falar de suas profissões, mercado de trabalho e o quanto era importante passar no vestibular. Esta atividade aconteceu durante dez meses, tendo um total de 20 exposições de profissionais. Além deles, tinha a própria equipe escolar mantendo pertinentemente o discurso sobre o quanto passar em primeiro lugar no vestibular era relevante.
No auge dos meus 16 anos, eu me incomodava com essa realidade. Não considerava justo sermos tratados como robóticos movidos a resultados sempre positivos. Não achava plausível reproduzir discursos e comportamentos que levavam os estudantes a uma intensa loucura mental, por uma pressão elegante que nos deixava desnorteados e ao mesmo tempo, concentrados a não falhar.
Outubro chegou, agora a contagem era regressiva. Faltavam dias para o grande Enem, e eu simplesmente, não tinha ideia do que fazer. Minhas orientações vocacionais mostravam coisas que eu não entendia, ou até mesmo que não achava necessário. E então, a atividade dos palestrantes iam terminar por aquele ano. A última seria 15 dias antes da prova.
Chegou o dia da última palestra e eu me encontrava numa condição péssima, me sentia pressionada, perdida e pronta. Mas pra que? Essa era a grande questão.
O palestrante chegou. Estávamos num círculo, ele sentou junto conosco e pediu para cada um dizer o nome e falar brevemente como estava se sentindo... “como assim, alguém quer saber como estamos nos sentindo a essa altura do campeonato?” Foi exatamente isso que eu pensei. Resolvi questiona-lo. Perguntei “o que” ele era. E ele me respondeu em palavras que me seguem até hoje: “o que eu sou, é uma pergunta que eu passaria o dia inteiro pra lhe responder. Mas posso lhe dizer que o que eu faço, é deixar que as pessoas tenham oportunidade de serem ouvidas. E eu sou fã de escutar. Mas em resumo, vocês podem saber que eu sou Psicólogo”.
Eu decidi 15 dias antes do vestibular, que daria oportunidade as pessoas de serem ouvidas.

Presente.
Cinco anos se passaram, a graduação está quase chegando ao fim, e com esse trabalho pude fazer esta reflexão, que me gerou um sentimento de despedida a uma série de questões. Dentre elas, a minha escolha de área profissional dentro da psicologia. Comunitária. Há cinco anos atrás, eu nunca imaginária que uma escolha feita em cima da hora poderia me trazer fardos e alegrias tão intensas. A Psicologia me proporcionou uma vida, e me possibilitou encontrar caminhos aleatórios que hoje são guias de aprendizado.
Trabalhar na comunidade me faz ter, todos os dias, a mesma sensação que eu tive, que quase me levou a chorar, naquela sala de palestras a cinco anos, quando aquele psicólogo dizia ser fã de escutar. E escutar pessoas que infelizmente não tiveram chances de ser ouvidas a maior parte da vida, é no mínimo, um privilegio pra mim.
Optei pela abordagem behaviorista, comportamentos me fascinam, porém, concluo esta breve descrição, com uma citação de um homem, que em minha opinião, é um dos mais admiráveis na humanidade, Jung, fundador e seguidor da Psicologia Analítica. Percebo está citação como a base da Psicologia como um todo.
“Conheça todas as teorias; Domine todas as técnicas; Mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”. Carl G. Jung.

Futuro.
A Psicologia em nenhum momento sai dos meus planos e sonhos futuros. Lembro-me de um filme, que assisti na disciplina de Educação II, Como estrelas na terra, toda criança é especial, e ainda hoje me emociona o papel do professor da criança com dislexia que o filme traz. Aquele professor do filme, pra mim, foi aquele palestrante da minha escola. Um divisor de águas no sentido mais profundo da frase.
Claro que em muitas situações, há um desespero e sentimento de impotência diante da nossa profissão, mas este é também um comportamento reforçador para não deixar por si só, o que um dia mudou a nossa forma de pensar, agir e viver. Escolhas são feitas dentro de escolhas antigas, e as consequências de todas estas, são compartilhadas de forma possível e memorável.

E a parte boa de tudo isso, é o amor que existe aqui, em mim, para mim e por nós. Paradoxal. Lindo. Assustador. Gratificante. Desafiador. Forte. Passei a ter uma vida cheia, de tantas surpresas e inquietações.
Hoje, eu deixo que as pessoas tenham oportunidade de serem ouvidas. E eu sou fã de escutar. Mas em resumo, vocês podem saber que eu sou Psicóloga.


Enfim, PSICOLOGIA !

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