Zero contato visual



 Posso sentir você me aquecendo;

Como mágica quente, que faz suar frio.

Como faísca amarela, antes de virar cinza.

Como o deslize na pele lisa, depois de escorrer.

Como o chama que puxa na cola do imã.


Posso sentir você me umedecendo;


Como gosto viscoso sem cor nem textura.

Como fraude envolvente que vai e que fica.

Como pecado profano do que não se cura.

Como vazio lotado de nada e euforia.


Posso sentir você me adentrando;


Como um uivo noturno de quem tá sem rumo.

Como vulto vistoso que todo mundo duvida.

Como recado indireto de pausa e resumo.

Como carinho violento de quem devora comida.


Posso sentir você me emergindo;


Como foco sem vez que não soube frear.

Como surpresa pensante sequer enganar.

Como despedir-se de quem nunca veio a ficar.

Como história a toa de propósito sem lar.


Posso sentir você me esquecendo;


Como um dia acordado sem nada a sentir.

Como gozo abafado que veio a sair.

Como abraço apertado de quem volta a calar.

Como os encontros que renascem pra não continuar.

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