Querido NÃO SEI,
Nunca achei que fosse lhe repetir tantas vezes.
Durante muito tempo achei que jamais lhe pronunciaria e de fato, por um tempo considerável, não o fiz.
Por anos me mantive provando quase todos os dias, que não precisava de você e que não faria parte da minha vida.
Minha ciência e meu ceticismo sempre reinou e me treinou pra ser firme, forte, leve, concreta, realista e sobretudo, comandante e nunca comandada.
Você era cada vez mais distante, insignificante e sem nenhuma relevância.
Eu provava tudo, manipulava as condutas, modelada os comportamentos, conduzia os pensamentos, minha memória nunca falhava e meus atos colocava um fim e um início em tudo que me cabia.
Até que chegou algo que não me coube.
A minha única exceção!
E então você veio como uma âncora que me enraizou completamente em algo que não existia em nenhum campo de pesquisa.
Ancorou em algum lugar sem chão, sem piso, sem ordem.
Você gritou nitidamente como uma voz que vem do eco de lugar nenhum.
Sem origem, paralelo nem mesmo um som.
Sua sutil desproporção fez comportamentos acontecerem sem autorizações, sem manejos e cobertos de vários nadas. Um nada sem esperar definição.
A forma como você impregna, dar pra sentir na pele, no arrepio, na aceleração do coração, no brilho do olho, no tremor das pernas, no medo da finitude e na certeza de que ela não virá.
Eu consigo contradizer todas as minhas regras, criadas pela vida, pelas dores, pelas escolhas e consequências delas.
Consigo contrariar todos os meus instintos, horrores, mágoas, orgulhos e incapacidades.
Por sua causa eu desperto para o que me enfraquece e adormeço para o que me salva.
Quando estou sob seu efeito, fico beirando a tudo que desconheço.
Fico a mercê de tudo que me mostra. E ai eu mostro, os feios e os bonitos, as lágrimas e os sorrisos, os planos e os desesperos.
Você vem de uma forma única. Vem em discussões sem coerência. Em proximidades sem programações. Em afastamentos sem expectativas. Em desejos sem pecados. Em quereres sem ambições. Em cuidados sem condições. Em espontaneidades sem lamentos. Em expressões sem medidas.
Com você eu me mantenho menina de pouca noção. Mulher de muitos critérios. Amiga sem limitações. Amante sem mistérios. Parceira sem meio termo. Companhia sem conduções. Criança sem constrangimentos. Feliz por nada!
Por sua causa, não me amedronta o futuro. Me assegura o presente. E me remete o passado. Lembrando que de alguma forma, tem algo que é diferente, algo que não se explica.
Já aceitei que quem manda é você. E acredite, tudo bem se eu obedecer.
Parando pra pensar, você até me incomoda, e ai eu discuto, encho o saco das pessoas, faço interrogatórios sem respostas, mas isso tudo vira nada, porque você me faz sentir aquele Algo da Lisbela. Aquela Vagorosidade do adormecer. Aquele crescente da Lua. Aquele presente do Star Blue. Aquele cheiro do Vip Rosê. A esperança do futuro estável.
É como estar no carro azul de 1987 do pai do Charlie Brown.
É difícil não esperar nada de modo racional, quando você simplesmente acontece.
Como um abraço casa.
Como uma diarreia.
Tudo que eu sei é não posso mais discutir com você, nem lutar contra nem a favor.
Porque talvez você seja "Nunca"(...)
Ou "Sempre"(.)
Até porque, quem precisa de um buquê de flores, se já se tem um espetinho.
P.S. Não conte isso a ninguém
[ainda tenho vergonha de aceitar que você é maior que eu.
Me dar alguns meses que eu fico de boas. Beleza?
VDC].
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