Desafinado
Quase de repente trinta!
Qual seria o funcional da vida, se não as surpresas (des)surpreendentes dela. Enquanto os dias vão caminhando e vamos em suas costas tendendo ter um norte, almeja-se a própria sorte, dentre outras crenças e fé.
O que era demandado, mais tarde vira piada, e até tal piada, mais tarde vem a perder a graça.
O medo que nos travava, ganha um nome e logo depois, um retrato de como éramos pequenos.
A menina mais linda da escola, saí do alcance dos olhos, e aquela beleza absurda, fica comum.
A vergonha que ruborizava, passa a ser dita com mais frequência e até de modo automático.
A preocupação que nos tirava o sono, hoje faz parte dos nossos mais belos sonhos.
Os melhores amigos do mundo, trabalham, casaram, foram embora, e hoje estão lindos apenas numa foto que fica dentro de uma gaveta velha e empoeirada.
E o amor da sua vida, passou.
Perceber que nossas fases vão passando, é comum, até o momento em que nos vemos montando formas e linhas que boa parte do que tínhamos, perdeu a ênfase, a intensidade e a frequência.
Nossos pais que as vezes era vergonhoso que nos deixássemos no colégio, hoje levamos eles pra cima e pra baixo na intensão de ficar por perto enquanto pode.
Nossa casa, que encontrávamos limpa e completa, hoje falta sempre alguma coisa e principalmente vontade de arrumar.
Nossas paixões que nos faziam tremer a mão, hoje são estáveis.
Pra quem só queria férias da escola, hoje um reencontro com amigos antigos é suficiente.
Pra quem achava terrível pagar a cota do aniversário do professor, hoje pagar 10 boletos ficou comum.
Pra quem ia para o natal da família por pura obrigação, hoje tudo que quer é ter os pais vivos e saudáveis por mais tempo.
Aquelas viagens de rodar o mundo, um final de semana na praia já resolve.
Aquele porre de cerveja tão interessante, hoje fica conhecido como macarrão com um taça de vinho.
Pra quem esperava o príncipe encantado, hoje um bom amigo que ajuda nas necessidades também já é o que precisa.
E apesar da leve falta de agrado que isso causa, acredite, isso é ótimo. Em algum momento percebemos que a vida não é mais que isso, e não que isso não pouco, ou chato, mas isso era o que chamavamos de vida adulta, que hoje entendemos ser estabilidade.
Depois de todas as ausências que essa percepção possibilita, vem a compreensão, que hoje eu escrevo sobre uma realidade linda, que me permite simplesmente ser real.
Construir sonhos em cima de fantasias, é uma insanidade que no futuro breve será frustrada.
Todas as épocas precisam ser vivenciadas das maneiras mais sinceras possíveis, mas quando nossos pés vão pisando no chão, também precisam ser firmes o suficiente pra essa saudade, virar recordação.
Que sejamos gratos a todas as nossas chatices diárias, são elas que vão nos formar e fazer de nós, um exemplo de referência pra pessoinhas que ainda vamos colocar nesse mundo e ver repetir esses ciclos.
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