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Mostrando postagens de março, 2019

Pacato cidadão

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Diria ser perturbador a quantidade de coisas interessantes que hoje temos em nosso mundo.  A palavra interessante ganhou vida própria e hoje ela nada mais é, do que um breve focal para mudar o assunto e sair ileso. Se algo foi visto ou não visto. Dito ou não dito. Feito ou mal feito. Se for interessante já pode ser denunciado como acontecido e posto na gaveta. Não existe mais provocação. O ócio virou tédio. A rotina, uma carga. A vida, uma reclamação. E a experiência... interessante. Não cabe nem comporta o sentido. O sofrido. O que vem na audição, na ação, na visão, no sentimento de perceber. Criamos memórias de fatos interessantes, e não lembrando dos detalhes que foram engradecidos e criaram a forma como uma coisa é e pode crescer ainda mais. Lamentamos saudosismos e esquecemos o sentido de ter saudade. Induzimos a beleza e prorrogamos o contato que nos faz destaque. Andamos num salto tão alto, que nem percebemos, tão pouco questionamos, porque é proibido pisar na ...

Piloto automático

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É assustador a maneira ridicularizada que nossas reações estão sendo codificadas. Temos uma constância de eventos trágicos acontecendo no Estado, no pais e no mundo inteiro, e repetimos em coro “mas que triste, é uma pena”.  Diminuir o valor das coisas tem sido cada vez mais óbvio, prático.  Se a seca no Nordeste deixa vários sem ter o que comer e beber, é uma pena.  Se um a pessoa entra numa escola e mata vários alunos, é uma pena.  Se um marido esfaqueia a esposa, é uma pena.  Se ninguém dá nenhuma notícia triste, continuamos dizendo que é uma pena, porque é piloto automático. Chegar num consultório terapêutico com três diagnósticos feitos por você mesmo, é de fato, uma pena.  Entregar o celular para seu filho parar de lhe chamar para brincar, é uma pena.  Plagiar a ideia de alguém, não ser descoberto e se sentir orgulhoso, é uma pena.  Olhar para o rosto da sua esposa todos os dias e não dizer que ela é linda... É uma pena. ...

Psicopatas e algo mais

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Dessa vez, tenho uma história para contar... Existe um centro urbano na cidade de Fortaleza – CE, que foi estrategicamente construído em áreas de periferias. Estes centros são constituídos por cursos e esportes para todo e qualquer lazer de base artística e aprendizados para jovens de comunidades. Por um longo tempo trabalhei nesse órgão, mas o que venha trazer hoje, é um fato que aconteceu no meu primeiro dia de trabalho. Chegando no local, vejo um adolescente, que teria por volta de onze anos de idade, com uma lata de tinta piche na mão e uma grande parede branca em sua frente, já com alguns pichos. Aproximei-me, dei bom dia e perguntei o que ele tinha escrito, já podendo ver que eram palavras. Ele tentou esconder a lata, baixou a cabeça e respondeu tímido: “psicopatas e algo mais”.  Minha reação foi de achar audacioso, e perguntei porque ele estava do lado de fora de centro e não dentro. Ele respondeu que só queria sair de casa. Em meio a uma conversa que foi seguida dis...

Pausa,

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Desde muito cedo comecei a pensar em qual representação cabia uma vírgula. A vírgula da pontuação gramatical da norma culta portuguesa. Essas mesma. Essa danada que tirava boa parte das minhas pontuações quando era corrigida por uma outra pessoa que jurava compreender meus escritos melhor que eu. E eu perdia. Para mim, a vírgula era a respiração. Só eu sabia o poder do que esteva sendo escrito, apenas eu, podia continuar no meu tempo de escrever. A respiração era quase que um sustento pra segurar a onda do próximo passo. Não cabia a vírgula onde o outro achava correto. Porém, metáforas a parte, foi assim, que comecei a experimentar o mundo com todas as suas respirações. Desde o cansaço da mulher que falava no telefone explicando o porquê da não quitação de um pagamento que a impediria de ter energia em casa, até o alvoroço daquele que parecia ter uma respiração infinita enquanto lançava ao público promessas falhas e que jamais seriam cumpridas, simplesmente porque nem ele saberia...

Multiplicação

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Quem caminha nem sempre sabe O que esperar quando chegar Se fica no meio do caminho Ou se reaprende a andar 💙 Manter-se andando e procurando Acaba ficando ainda mais cego Como se tudo fosse por si conduzido Somente iludindo a bobagem do tal ego 💙 Em qualquer momento da viagem Amizades vão sendo feitas e reparadas Auxiliando inclusive nesse percusso E as deixas nem vão sendo notadas 💙 A empolgarão é tanta Que enlaça o que já estava preso E ficando assim sei querer Como se nem tivesse nenhum peso 💙 Os títulos começam a chegar De repente estamos namorando Nem percebeu que o foco mudou Mas pra atentar ainda vamos andando 💙 E essa caminhada não parece ter fim O passo vai ficando cada vez mais comprido Os status vão juntos na mala E de namorado se faz um marido 💙 O quão engraçado a vida é Vai se fazendo onde não espera que faça Nossas surpresas continuam seg...