Pausa,


Desde muito cedo comecei a pensar em qual representação cabia uma vírgula. A vírgula da pontuação gramatical da norma culta portuguesa. Essas mesma. Essa danada que tirava boa parte das minhas pontuações quando era corrigida por uma outra pessoa que jurava compreender meus escritos melhor que eu. E eu perdia.
Para mim, a vírgula era a respiração. Só eu sabia o poder do que esteva sendo escrito, apenas eu, podia continuar no meu tempo de escrever. A respiração era quase que um sustento pra segurar a onda do próximo passo. Não cabia a vírgula onde o outro achava correto. Porém, metáforas a parte, foi assim, que comecei a experimentar o mundo com todas as suas respirações.
Desde o cansaço da mulher que falava no telefone explicando o porquê da não quitação de um pagamento que a impediria de ter energia em casa, até o alvoroço daquele que parecia ter uma respiração infinita enquanto lançava ao público promessas falhas e que jamais seriam cumpridas, simplesmente porque nem ele saberia o que falava.
É complexo ver e ouvir, pausadamente, as pessoas respirando em tempos alheios. Gaguejando para citar palavras que não são suas. Falando mais baixo por medo de errar o tom. Ou gritando pra ter que ser ouvida.
Como diria a genial, Eliane Brum, a vida que ninguém vê se passa bem aqui, embaixo dos olhos de todo esse povo que acha que nada tem a ver com a positividade da vida do outro.
A forma de nossos contatos estar cada vez mais embelezadas, arredondadas e cheia de padrões de qualquer que seja o lugar, só para se encaixar melhor aos olhos que quem não vê. E até então, essa era parte boa, porque a ruim, ainda não foi vista.



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