Psicopatas e algo mais
Dessa vez, tenho uma
história para contar...
Existe um centro urbano
na cidade de Fortaleza – CE, que foi estrategicamente construído em áreas de
periferias. Estes centros são constituídos por cursos e esportes para todo e
qualquer lazer de base artística e aprendizados para jovens de comunidades. Por
um longo tempo trabalhei nesse órgão, mas o que venha trazer hoje, é um fato
que aconteceu no meu primeiro dia de trabalho.
Chegando no local, vejo
um adolescente, que teria por volta de onze anos de idade, com uma lata de
tinta piche na mão e uma grande parede branca em sua frente, já com alguns
pichos. Aproximei-me, dei bom dia e perguntei o que ele tinha escrito, já
podendo ver que eram palavras. Ele tentou esconder a lata, baixou a cabeça e
respondeu tímido: “psicopatas e algo mais”.
Minha reação foi de achar
audacioso, e perguntei porque ele estava do lado de fora de centro e não
dentro. Ele respondeu que só queria sair de casa. Em meio a uma conversa que
foi seguida disso, ele relatou que era o filho mais novo de três irmãos. O mais
velho havia falecido a uns meses, o do meio, era usuário e traficante de
drogas, o pai, alcoólatra e a mãe, espancada pelo pai. Sim, ele só queria sair
de casa.
Fiz uma proposta. Ele
passaria uma semana com um “passcard” para ter acesso a piscina do centro, e eu
ficaria com a lata de tinta guardada. Caso, uma semana depois, ele gostasse da
ideia, eu o matricularia no curso de natação, e jogaríamos juntos a tinta no
lixo. Caso ele não se interessasse, eu devolveria a tinta, e ele devolveria o
passe. Concordamos.
É junho de 2015. Dois
anos e meio se passaram desde o nosso primeiro encontro. Hoje acontece no
centro o campeonato de natação juvenil de periferia, e a medalha de ouro,
representando o primeiro lugar, foi entregue aquele menino que só queria sair
de casa.
As paredes do centro
continuam cada vez mais brancas.
Comentários
Postar um comentário