Ellie

Fração é pra quem divide.

Canção pra quem duvida.

Os opostos serão sempre distração.

Os dispostos irão sempre se atrair.


O som do barulhinho da agulha de uma tatuagem me faz querer dividir, duvidar, distrair e me atrasar o tempo de novo como um momento novo para outro morto tempo que também se esqueceu e se esgotou na atração.

Eu de azul, ela de preto. Isso me lembra as cores daquele lugar. O que era pra ser um banho rápido, se tornou uma hora de montanha russa que só subia. Destemia. Descobria. Estarrecia.

A luz amarela daquele banheiro por algum motivo justo, não incomodou. Eu sustentei, suspirei, suspeitei que seria um batizado, amontoado de o tal do mix de emoções.

O ventilador já quase parando não servia nem pra mudar a gota de suor que escorria do pescoço dela de lugar...

Ela estava linda, inteira, minha. E eu, completa dela, nela, com ela, pra ela e por ela. 

Nosso beijo se complementa de um jeito encaixado que molha no ponto certo, seca na temperatura ambiente que é quente, reluzente, fluente. Nossa mente que um dia foi sã, hoje só é vaga de tudo que não cabe mais nada. 

Nossas mãos hora empalmadas, hora separadas, mas sempre tocando o corpo como se tivesse reconhecendo a própria alma. Esse toque que vai para além da matéria, da massa e do físico. Ele é risco, rico. Nosso. Dócil e agressivo. Forte e fraco. Formado de todas as metades. Formando todos os encaixes.

Minha boca já desce por ela inteira, sem nem mesmo ressecar. Só escorre, rompe os tabus, penetra, modela, entra, sai, entra, sai, gira, vai e volta, e nada dá margem de estacionar enquanto eu te olho e você revira os olhos fazendo o som mais bonito que meus ouvidos já ouviram.

Sem um pingo de pudor, indecentes o que for. Minha boca já desce pela sua cintura encontrando o caminho certo pra aumentar o volume do seu som. É quente, úmido, bom, meu, minha. 


Senta em mim. 

Me tem assim. 

Como quem vive pra um fim. 

E sempre diz sim.


Gira no chão, fica de quatro apoios. Mesmo não assistindo seu rosto, consigo te ver, abrindo a boca, entortando o piercing, respirando forte, procurando algo pra se apoiar e conter a força que tá saindo de você. 


Saindo por baixo. 

Saindo por som. 

Saindo por sim. 

Saindo em mim.


Enchendo a minha boca de expressão do teu corpo que eu tenho e quando tenho me tem por completo. 


Sem certo. 

Sem teto. 

Sem lerdo. 

Completo.

Teu cansaço me umidece. 

O todo que me enlouquece. 

A fúria que desaparece.

Mansidão que adormece.


Amanhece no chuveiro. Todos os líquidos se misturam, nossos corpos que já nem são dois, já se mesclaram, confessam, condenaram, amordaçaram. Deslimitaram. 


A porta abre de novo e tudo se faz ao contrário, outra vez.


O som do barulhinho da tatuagem acabou.


Os dispostos irão sempre se dividir

Os opostos serão sempre uma dúvida

Canção é pra quem tem distração

Fração é pra quem se desnuda.




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