Meu quarto com Jack


Uma vez ouvi uma frase tão bonita, que a sensação foi que algo explodia na minha cabeça, fazendo todos os sentidos se manifestarem. Um velho clichê de quem usa do bom senso para um raciocínio, ainda que este, também tenha suas emoções.
"É um grande erro teorizar antes de se ter os dados. As pessoas moldam os fatos pra chegarem em suas teorias, ao invés de adaptar as teorias aos fatos", 
(Sherlock Holmes - Filme).
Passei muito tempo da vida seguindo a complexa e difícil ideia, de que nossas inquietações psíquicas precisavam de um "olá", ou seja, contrário ao comportamento de fuga, elas tinham a necessidade de um olhar em sua direção para que fossem percebidas. E, consequentemente, um processo doloroso e lento, para que a partir de uma compreensão, estas inquietações pudessem finalmente se sossegar. Porém, algo faltava. Em alguns casos, eu percebia, entendia, descrevia, concedia um local de fala para que estas inquietações, enfim, silenciassem... E elas continuavam gritando. Até que o personagem de uma criança de 5 anos, que desejava um "bom dia" e dizia "olá", para todos os móveis e objetos em geral de um quarto, (tratando-se do mundo que ele conhecia) num filme fantástico, antigo e versátil, disse: "Dê tchau ao quarto". 
(O quarto de Jack)
Dessa vez, minha cabeça não explodiu... 
Ela relaxou. 
Ignorar uma inquietação, é mantê-la em negação, nunca a deixando lhe acessar, e portanto, deixá-la sempre no início.
Perceber, compreender e deixar ela "falar", é o/um processo, que a mantém no 'durante'.
Mas após dar a ela, o local de "fala", o tempo e espaço de atenção, e a tristeza necessária, é a hora de dar adeus e permitir que ela saia do foco.
Jack me lembrou que tenho processos não concluídos e mal compreendidos, pois lhes dei atenção, mas continuei agarrada a eles. 
A importância de deixar ir, é voltar a respirar...
O excesso causa danos, mas a falta de ar é quem causa os excessos. Temos as hashtag de 'deixar ir', 'desapega' etc, mas será que o sorriso no brinde entre amigos de "superei", é realmente o "tchau" que conclui?
Bom, eu digo tchau a menininha de cabelos cor de mel que achou que sua família tinha sido destruída.
Dou tchau aos porquês sobre as novas relações dos meus pais.
Digo adeus à mágoa do despreparo familiar que me fez desprotegida e fiel ao medo.
Aceno com a mão para as memórias de solidão que me fizeram 'desabraçar' tantas vezes pessoas que eu amo.
Dou tchau para todos as deliciosissimas comidas que eu precisei pôr pra fora antes que me estupisse de emoções contidas.
Até nunca mais à todos as tentativas de querer agradar o externo e poupá-los dos meus diferentes desejos, sonhos e gostos. 
E digo tchau aos argumentos que me barraram de ir embora de todas essas teorias prontas com fatos alterados.
E agora, não estou sorrindo e brindando com os amigos, nem me sentindo superada.
Estou só respirando...
E o cheiro do ar, é incrível.



Comentários

  1. Magnífica poetisa,artista ,e ser humano. Suas palavras me deixa em êxtase reflexiva de suspiro de vida.
    Gratidão.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Viva a Mesa Viva!

TRIN(QU)EI

Fiz as pazes com o Natal