Há fantasmas no meu quarto
Talvez não exatamente no quarto, mas eles me acompanham por boa parte da vida.
Eu lembro de quando eu não me importava com algumas energias vitais. Eu amava uns e outros, mas não me relacionava bem comigo. Me achava fraca além de frágil.
Quando me perguntavam o que havia me feito mudar de ideia, eu sabia imediatamente, porque era algo sentido…
Uma vez ouvi numa música que quando o Amor é identificado através do cheiro de Menta e Pipoca; e assim foi. Algumas coisas ganharam um sentido a mais, quando Menta e Pipoca nasceram pra mim.
É como se eles precisassem de mim, e portanto, eu tenho vontade de viver e de está bem, pra partilhar a vida com eles, todos os dias.
Mas os fantasmas continuam lá; afinal, eles não morrem! Eu percebi que fui construindo minha bolha através dos anos. Hoje consigo saber de que ela é feita, e não me parece ser algo bom.
A minha bolha é um lar! Não tem isso de ser acomodado ou conveniente, mas foi o primeiro lugar que eu pude ser de verdade, e nem eu sabia o quanto de paz que isso significava.
Minha casa é paga todo mês, as vezes eu até atrasado o pagamento inclusive (como esse mês), é lotada de pêlo de cachorro e cheira a xixi de terça a quinta (geralmente a gente não tem tempo de limpar direito). Algumas paredes tem marcas de patinhas, e nem sempre a colcha de cama está na cama.
Mas é como se fosse uma bolha de ar, no meio da imensidão do oceano. Um fôlego!
É onde cabe todo o meu afeto, minha vontade de ser melhor e de talvez, receber algumas visitas. É onde eu consigo ir ao banheiro sem ficar com vergonha, ou andar de camisa e calcinha quando der vontade. É onde eu coloco o volume no mais alto e canto Armandinho mais alto ainda, (e a Janaína nem reclama).
Minha casa tem uma sinfonia toda terça e quinta às 09h, quando Nilson vai limpar o corredor e o Pipoca fica tentando conversar com ele, e o despertador natural todos os dias as 10h, quando um motor é ligado e passa exatos 3 minutos fazendo um barulho infernal.
Eu gosto de tudo aqui.
Fora de casa, é como pegar onda… e não é bom. (Com exceção do Cross; lá existe um sofrimento, mas é diferente).
Em 2014 eu descobri que era alérgica a parafina, e aí já viu né. Como fica em pé numa prancha, sem parafina? É queda certa. E eu caio, quase todos os dias.
Encontrar com pessoas conhecidas na rua, me fazem lembrar que eu sou diferente, como se eu fugisse do protocolo.
Não era pra eu me importar, e até que não me importo, mas essas pessoas não falam comigo, mas falam com outras pessoas que traz o material de repúdio perfeito: “aquela é a mãe da fulana fora do protocolo”. E é terrível.
O que eu vou falar? O que eu tenho pra falar?
Eu não conheci países fora do Brasil!
Não casei nem tive filhos.
Tenho nome sujo e nem consigo ter crédito no banco.
Não ando de mãos dadas com ninguém na rua, e com certeza meus pais não se orgulham das minhas escolhas.
Minhas tias não são mais minhas companhias;
Meus amigos compõem os dedos de uma só mão.
Eu me sinto falhada, e sei que talvez eu me cobre como se já tivesse 40 anos, e sinceramente, não acho que muita coisa vá mudar até lá (exceto a parte de não ter filhos).
Bom, por isso eu acabo gostando tanto da minha bolha. Longe dela eu me sinto desprotegida e a maior parte do tempo, sozinha.
Não tenho certeza pra quem rezar; é estranho pensar que tem alguém que poderia cuidar de mim, se me sinto desassistida.
Talvez eu tenho pego um atalho e desviei o caminho, ou talvez nem tenha um caminho.
O fato é que caminhar, é um pouco desgastante, e no final das contas, só me faz ter dor na panturrilha.
Por isso achei melhor dar nomes aos meus fantasmas, e deixar um espaço pra eles na cama, afinal, ela é king .
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