Ninguém está vendo!




 

Eu era escritora, me expressava através das linhas tortas da literatura nua. Eu gostava, era estranho, as vezes rimado, mas quase sempre tinha cheiro de primavera queimada.

Meu cabelo fedia as cinzas de cigarro de palha vencido, meus pés eram sujos e eu sempre tinha um paracetamol pra lidar com uma dor de cabeça leve pós bud.

A vida mudou!

Eu parei de beber e fumar, apesar dos meus pés continuarem sujos, eu mal uso paracetamol; porém, não consigo respirar.


Tenho uma família linda, cheia de vida, pêlos e cocô. Uma mulher que muito mais é minha parceira. Bom, ela me dava água quando eu vomitava… então, se tornou uma companheira da minha vida. Além dela tem as outras 8 patas; o sentido de eu querer me salvar todos os dias. Vocês também se apaixonariam se conhecessem.


A grande questão é que algo me desligou, como um botão, uma alavanca, ou algo assim.

Dentro da minha bolha eu funciono quase com exatidão, mas fora dela, eu perco o fôlego.

O mundo tem sido como um sugador de energia, que me faz afogar nas linhas que nunca foram escritas.


Eu gostava da ideia de ser eu, mesmo com todas as histórias que nem parecem mais minhas; mas hoje eu só fico pensando “em qual momento eu errei”, ou “com quem”. Obviamente não tem resposta. Na verdade eu nem espero que tenha. 

Bom, quando eu era mais nova, eu pensava que com o passar dos anos algumas coisas melhorariam, meu pai sempre dizia “tudo vai se ajustar”; eu tomei isso como verdade, e por anos realmente acreditei. Mas os anos passaram, e não tem nada justo.


Eu poderia ficar presa em inúmeros parágrafos transcorrendo minha sede de choro contido e desesperançoso, mas não vou, só iniciei pra dar um efeito dramático; e fiz isso pra dizer: Eu não sou vitimista!

Mas confesso que foi estranho quando ganhei os títulos de filha ingrata, vergonha da família e desvirtuada. Fria, calculista e sem sentimentos. Será que eu realmente desprezo as pessoas? Fiquei tão presa nesse questionamento que comecei a justificar algo complexo: e se eu tiver sendo castigada? Por ter saído de casa, abandonado minha cachorra, rejeitado, humilhado, espancado e isolado minha mãe; escolhido morar com uma mulher, ter dívidas, nome sujo… Se eu tiver sendo punida por todas as vezes que não pedi ajuda nem chorei. Ou por todas as vezes que não consegui brincar com a Lucy porque eu não sabia mais como olhar pra ela.


Eu não sei o que aconteceu… não consigo lembrar em qual momento eu me perdi, me desorganizei, e me desqualifiquei.

Só sinto que deu errado e tempo todo e que sou uma das pessoas que precisa ser resetada (de acordo com o pastor André Valadão). 


E aí, eu tento respirar, sinto cheiro de mofo, como se algo queimasse por dentro, e eu só paro…

De novo.


Bom, eu era escritora… mas parece que alguém parou de olhar pra mim!





























.

_

Mais uma poesia pra contextualizar 



Eu tentei conversar com meu piano
Eu tentei conversar com meu violão
Conversei com minha imaginação
Me confessei ao álcool

Eu tentei e tentei e tentei um pouco mais
Contei segredos até minha voz ficar rouca
Cansei de conversas vazias
Porque ninguém me ouve mais

Cem milhões de histórias
E cem milhões de músicas
Eu me sinto idiota quando canto
Ninguém está me ouvindo
Ninguém está ouvindo

Eu converso com estrelas cadentes
Mas elas sempre entendem errado
Eu me sinto idiota quando rezo
Então, pra quê eu estou rezando, no fim das contas?
Se ninguém está ouvindo

Alguém, por favor, me envie alguém
Senhor, tem alguém?
Eu preciso de alguém.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Viva a Mesa Viva!

TRIN(QU)EI

Fiz as pazes com o Natal