Lilás

Chegamos da comemoração do seu aniversário, num uber azul escuro com placa 2431, que nos cobrou R$14,80.
Você força a vista já tonto de cerveja, para acertar a fechadura da porta.
Entramos e deixo minha sandália perto do corredor que dar acesso ao seu quarto.
Conversávamos sobre a discrepância da vida, e que está nos levou. Relações segregadas e atividades detalhadas nos fazem distantes em alguns momentos.
No seu quarto bagunçado, com roupas suas espalhadas por todo lado, cascos de cerveja no chão e um incenso de sândalo soltando um cheio doce com lavanda lilás e um pouco caramelado; combinando com o relógio que marca 3:42. 
Você acaba de sair do banho e está com uma toalha verde claro enrolada na cintura, a mesma que a 10 minutos eu havia me enxugado ao sair do banho, enquanto negava sua ajuda daquele pequeno banheiro.
Eu estou com sua camisa branca, com o nome do curso em letras pretas na frente e com o símbolo da universidade; de calcinha preta, como quase sempre.
Você coloca a música Esconderijo, da Ana Cañas pra repetir, e deita ao meu lado ainda de toalha. Não sei se existe roupa por baixo daquela toalha, tão cedo iria descobrir e lhe descobrir.
Coloco a cabeça no seu peito do lado esquerdo e ponho a minha mão quase fechada, com os dois dedos acompanhando o ritmo dos seus batimentos cardíacos. Com o tempo eles começam a acelerar.
Meus dedos param de acompanhar.
Nós nos olhamos e então, tudo se perde mais uma vez.
Nossas bocas entreabertas se tocam bem devagar, enquanto sua língua passa pela minha que ainda resistia em sair.
Sua mão já está na minha cintura.
Eu já estou por cima de você.
 Como se fosse um só, ou até mesmo, nenhum.
Os panos da cama começam a sair do lugar; você também. Nós não podíamos nos envolver assim. Não de novo. Não dessa forma. Não.
Pra cima, pra baixo, pra cima, pra baixo. Não dar mais tempo. Nunca deu. Sempre tivemos assim, de cima a baixo.
Nos corpos. Nas mentes. Nos entrances. Na conexão.
Meu rosto fica entre as suas mãos, no momento que em tudo que nos faz dois abaixo do pescoço vira nosso. Se encaixa, preenche, penetra. 
E agora não falta mais nada.
Você beija todo meu rosto, enquanto mantem as mãos por volta do meu cabelo, me olha e eu percebo que o tempo não passou.
Sempre tivemos aqui.
Agora.
Vinculamos o sexo ao nosso amor. Todos os sentidos são perdidos. Não temos proteção. Não consigo pensar.
Você tem um anel no terceiro dedo na mão direita, mas agora ela escorre pelas minhas pernas e estou ocupada demais presa na sua barba que está descendo pelo meu pescoço.
Não temos velocidade nem força. Temos alguma coisa que está nos encantando e nos deixando a ponto de flutuar.
Não tenho mais pulseiras. O som é somente do seu corpo batendo no meu.
Minhas unhas quebraram e nossas mãos puderam se encontrar sem que eu deixasse marcas profundas nas suas costas.
Ao fim desse agora, você não sai de mim. E em mim ficam emoções, respeito, suor e esperma .
Volto a deitar no seu peito do lado esquerdo e ponho a minha mão quase fechada, com os dois dedos acompanhando o ritmo dos seus batimentos cardíacos. Eles começam a desacelerar. Assim como nós.
Nós nos olhamos e então, um raio de claridade que invade a janela do seu quarto bagunçado, com roupas suas espalhadas por todo lado, cascos de cerveja no chão e um incenso de sândalo soltando um cheio doce com lavanda lilás e um pouco caramelado.
Seus olhos olhando os meus ficam mais castanhos que o normal. O relógio marca 5:13 da manhã.
Ainda com os dedos acompanhando seus batimentos cardíacos, vagarosamente, adormecemos.
Sua camisa branca, com o nome do curso em letras pretas na frente e com o símbolo da universidade já se juntou a suas outras roupas jogadas pelo quarto, junto com os cascos de cerveja.
O incenso já chegou ao fim.
Nós também.


Procuro a Solidão 
Como o ar procura o chão 
Como a chuva só desmancha 
Pensamento sem razão 
Procuro esconderijo 
Encontro um novo abrigo 
Como a arte do seu jeito 
E tudo faz sentido 
Calma pra contar nos dedos 
Beijo pra ficar aqui 
Teto para desabar 
Você para construir

💜

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