De olhos vendados
Presto atenção nos seus olhos apertados, revirando de leve pro lado e levando os lábios pro canto esquerdo da boca enquanto pensa em alguma besteira. Repete pelo menos sete vezes o mesmo movimento de tentar prender o cabelo com fios curtos pra cima, sem sucesso.
Observo seus espasmos enquanto dorme. Inspira pelo nariz e sopra pela boca; vai se revirando até acordar, com a voz falhando e colocando os lábios pra frente como se tivesse quatro anos de pura birra.
Te sinto chorar, quieta, controlando a garganta que deseja gritar. Evita chorar por odiar a sensação que isso te causa, assim como gosta de se esvaziar pelo choro.
Te escuto como tuas lembranças de infância que nem lembra mais ou como jovem que se tornou uma sobrevivente. Calma, viva. Apressada pra viver tudo pra ontem.
Te vejo de baixo pra cima, se virando pra direito, abrindo a boca, apertando os olhos, relaxando as pernas e deixando sair de ti um som e um gosto bom.
Paro o tempo pra ver seus trejeitos, conceitos suspeitos de mudança, sem cobrança, discrepância. Nascendo do lento, sem tormento, no talento que percorre, escorre.
Não precisa saber. Não precisa tecer. Não precisa mudar nem mesmo apontar.
O que cala todos os poetas, não tem a ver com a beleza das prosas poéticas. Tem a ver com dormir e acordar com a própria poesia.
Ela que tem nome, inseguranças, formas e títulos anônimos.
Enquanto cidades de papel permanecem adormecidas, eu corro pra arregaçar todas as brechas que se dá por uma agonia de precisar esconder a sujeira que forma os pecados humanos mais divinos da vida.
De você eu não me escondo. Não por não ter medo de queda, mas por encontrar em nós, o próprio esconderijo.
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Existem artistas que escrevem obras para multidões. Mas hoje eu escrevi apenas para você.
E sim, é aqui que o amor dorme.
Eu abraço a parte mais mundana de você!
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