Fada do Dente
Começamos perdendo os dentes logo na infância, para que a vida desde cedo comece seus ensinamentos sobre ciclos.
Sobre o que a gente precisa abandonar pra dar lugar a passagens maiores e mais saudáveis.
A dor insuportável e receosa, vira brincadeira de prender o dente molo no picolé pra ele nascer de novo mais firme.
E nesse movimento, seguem as perdas.
Nos perdem de vista.
Nos perdem no chão.
Perdemos as promessas cheias de nada.
Perdemos o suor das mãos empalmadas.
Perdemos a crueldade e expectativa.
Perdemos o suporte e a fraqueza nas pernas.
Perdemos a voz e a partida.
Perdemos o fôlego e o progresso.
Perdemos companhias que já deitou do nosso lado da cama.
Perdemos a fala.
Perdemos o gosto.
E de perda em perda, vamos ganhando espaço pra se fazer de novo. Ganhando espaço para ser um novo que estava ocupado demais gerando "ganhos" alheios.
Voltar pra cama depois de perder um dente, e guardá-lo embaixo do travesseiro é semelhante a perder alguém e querer colocar as memórias embaixo da cama, de baixo da pelo, por dentro dos olhos e no cheiro das sensações.
Querer acreditar que da perda conseguirá extrair vitórias, é inteligente. Porém colecionar memórias perdidas como exito, é negligenciar o crescimento.
Crescimento que pode, ganhar forma, significado, ou pode atrofiar.
Uma hora ou outra se perde um dente, uma mãe, um amor.
E em algum momento, é necessário dormir sem travesseiro.
Arrassou
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