Poderes podres
E eu que achei que podia mudar o mundo com meus moinhos de vento.
Achei. Sonhei. Amei. E quando acordei, o mundo estava ao contrário. Caído, moído, desatento e sem talento.
Cheio de ruas quadradas com pequenos fragmentos de gente andando de terno, olhando pra frente sem enxergar nada. Os pássaros foram desabrigados, as árvores foram ao chão, as praças viraram shopping a céu aberto, as pessoas só vão pra comer e comprar. E tudo se vende, nem sempre se apreende.
As doenças mesmo se multiplicando, eram enfrentadas. As pessoas iam pras ruas, mascaradas (agora de forma certa), quase como super-heróis. Lutando pela sobrevivência. A religião que prega pela salvação, gerava uma devastadora estatística de assassinatos. Assassinatos sim, resultados das diferenças, levando ao preconceito que mata mais que muita arma e AVC. Os alienados ou os que farão má interpretação dirão que estou falando mal de Deus, mas, de que adianta mais uma confissão, ou melhor, confusão.
O desemprego tirando a comida de tantas famílias, e os políticos politizando o máximo que conseguiam, afinal, sociedade inteligente nunca foi o alvo deles.
O ódio sempre perpetuado dessa vez, até em gabinetes. Ora vejam só, o crime que sempre foi mais organizado que a polícia, porque um simples 'gabinete do ódio' nos surpreenderia?
Concedemos poderes a pessoas podres, talvez por fé, ou esperança, por ilusão, ou por desespero. Ou será melhor dizer que o poder tornou nossas pessoas podres, pela perda da fé, da esperança, da ilusão e até mesmo do desespero.
Quando vi tudo isso, confesso que tive vontade de dormir novamente. Mas resolvi fazer diferente.
Pus meu vestido colorido com estampas aleatórias, minha chinela havaiana com o arco-íris LGBT, soltei meu cabelo vermelho tingido e andei só na contramão pelo meio de uma praça, como meu pai me ensinou. Sentei num banco cinza, olhei pra cima e vi flashs de sol, como se tivesse uma peneira gigante no céu. Esperei o vento bater e comecei a escrever.
Por um momento imaginei um verde absoluto, parquinhos coloridos e crianças brincando juntas, as negras e as brancas, as gordas e as magras, todas bonitas. Menininhos de cabelo curto e camisa rosa, menininhas com cabelo "joãozinho" e vestido azul, os pais ficavam por perto lendo um livro. Mal dava pra ouvir o som das buzinas dos carros de tanta música que os pássaros faziam no finzinho da tarde. Os namorados conversavam sem tirar fotos. E os idosos aproveitavam a melhor idade fazendo caminhada em volta da praça. E eu, sonhando em chegar em casa, buscar minha família e ir visitar meus pais.
De repente ficou quente, eu abri os olhos com um barulho de confusão no trânsito, as pessoas usavam máscaras e falavam sobre um vírus que estava vindo levar muito gente. Olhei ao meu redor e percebi que estava sozinha, tive medo de ser assaltada.
Levantei e fui embora.
👏👏❤
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