Estranho natural

Será que as separações são e serão mesmo os espasmos da vida e das relações?! 
Estranho como fui contra tudo para argumentar a favor das grandes misturas e junções, e por outro lado, estou há pouco mais de duas décadas me desfazendo e sobrevivendo a separações.
Equilibra de um lado, sente falta de outro.
Chora num canto. Em outro sorri.
Entra num ônibus numa linha, desce do outro lado do mundo ou da cidade.
Segue viagem. Se despede. 
Me acumula. Se destoa.
Promete que volta. Duvida que vou.
E assim vai, de uma ponta a outra.
De um itinerário ao próximo.
Todos os dias lutamos por momentos que nos unam. E essa união fica cada vez mais torta.
Separam-se as famílias...
Separam-se os amigos dos animados.
Separam-se os amantes dos amados.
Separamo-nos pela cidade. Pelos Estados. Por países e até mesmo nos deixamos separar na mesa de jantar.
Longas noites a maior parte das vezes parecem frias, porque separamos os lados da cama. Os quartos ou beliches.
Nos separam por cores. Raças. Tamanhos. Belezas. E custos financeiros.
Separam os pais das mães. Esquecem os filhos no meio.
Separam o tempo do vento, esquecem os livros na história.
Separam tudo de tudo mesmo. Todos de todos estes. 
Nada mais se configura como uma junção, se não for por meio de objetivos teóricos idênticos.
Para encontrar um, precisa deixar o outro. E para precisar do outro, um deve ser deslocado.
Céus e terras moveram-se há milênios de anos atrás, para que o Amor se mantesse vivo na humanidade. 
Hoje cometemos a indecência de segrega-lo sem o mínimo de sentido por ter se tornado natural.
Rezamos de joelho sem saber porque.
Assinamos divórcios sem temer aos que ficam deixados nas entrelinhas.
Compramos mesas de jantar porque são vendidas nas lojas de móveis.
As casas são construídas com cômodos cada vez mais separados para uma melhor comodidade.
Altruísmo talvez esteja nas prateleiras das próximas lojas que futuramente serão inauguradas...


"Me abrace e me dê um beijo. Faça um filho comigo. Mas não me deixe sentado na poltrona num dia de domingo"
O Rappa.

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