O primeiro dia da minha vida
Quando meus olhos abriram eu achei que tava claro demais. Ardeu e parecia penetrar luz na parte de dentro dos meus olhos. E de repente tudo começou a se mover. Alguns riam, outros choravam, mas a maioria ria e chorava ao mesmo tempo. Eu não entendia nada. Era frio e tinha cheiro de fumaça ou algo queimado. Nasci no outono, tinha folhas laranjas, e eu sonhava que meu cabelo fosse daquela cor. Eu nadava pela vida e alguns dias achava o máximo, já em outros, queria me afogar e nunca mais ver aquela luz tão clara. De alguma forma era bom. Era pouco e pequeno. Gigante ao mesmo tempo. Como tudo que importa. Eu tinha uma rara lembrança de já ter conhecido o mundo antes, apesar de ter sido um mundo turvo. Era um mundo antigo, onde as pessoas cheiravam a óleo vencido. A modernidade se solidificou como gelo, e tudo parecia ter uma forma correta de existir. As pessoas tinham que ser normais, com todos os membros, sã, magras, altas, bonitas, heterossexuais, recatadas, inteli...