Av. Desembargador Moreira
A história da Anna é diferente desde o começo.
O estranho natural definia ela de uma forma tão inteira que assustava.
Diferente dos outros os quais convivia, ela sabia que a vida durava pouco, e isso a instigava um desejo imensurável de ser todas as cores do mundo.
No seu grande dia, ela saiu do casulo e finalmente mudou de forma. Passou tanto tempo esperando por isso que nem percebeu que para bater as asas era necessário um processo, ela atropelou sem pensar e só voou.
Enquanto seus amigos e parentes praticavam o bater das asas voando sempre em frente e em bando, Anna gostava de olhar pra tudo ao mesmo tempo. E por algum motivo estranho natural, ela conseguia.
Até que numa noite de clara Lua, ela olhou pra cima e teve a sensação mais completa de sua vida...
Um ponto brilhante naquele céu imenso.
Ela imaginou que seria a coisa mais bela que seus olhos já tinham visto. Imaginem só, uma coisinha pequena podendo viver numa imensidão noturna e o melhor, podendo ver o mundo de cima.
Ela se apaixonou.
Perdidamente.
Infinitamente.
E tudo que ela queria era se unir a essa Estrela e passar junto dela, o resto da sua curta vida.
Então ela se despediu dos outros, se despiu dos planos, se permitiu o risco e subiu. Voou pra cima.
Um vôo que durava mais do que ela imaginava.
Quanto mais ela olhava a estrela, mais ela se apaixonava, e parecia que mais distante dela estava.
Apesar do cansaço e desgaste de tanto voar, ela sentia uma determinação tão linda, tão estranha e tão natural.
Lá de cima ela via seus amigos e parentes já envelhecidos, com família, filhos, cheios de privilégios iguais e histórias vazias.
Por vezes ela pensava se tudo isso valia a pena, e logo em seguida sentia aquele Algo que fazia seguir em busca da estrela.
Uma escolha que seria sua libertação, sua Paz, mas também seu caos e cegueira.
Depois de tanto voar, depois de tanto pensar, a Estrela estava mais próxima. E ela ficava cada vez mais linda. Era a primeira paixão de Anna e não poderia ser mais ou melhor. Era exato, era estranho e extremamente natural.
O brilho da estrela era tão claro e tão forte que a cada batida de asas pra perto, Anna ia ficando mais ofuscada.
Então ela calculou a direção, fechou os olhos e se lançou voando um pouco mais até o tempo que sabia que conseguia chegar.
E quando chegou, abriu os olhos, viu por 3 segundos a beleza mais infinitamente linda e mágica que nunca imaginou ver. Era diferente de tudo que ela ja tinha pensado e sentido. Era linda. Era o encontro com a vida que ela sempre sonhou. Era o amor mais intenso, o risco mais propenso, e a certeza que sim, era ali que ela gostaria de passar o resto da sua vida.
E passou.
Talvez Anna não imaginasse que o resto da sua vida duraria poucos segundos.
O brilho da Estrela era tão forte, que os frágeis olhos de Anna não suportaram.
E assim foi a vida da pequena borboleta.
Anna caiu lá de cima já quase sem vida, e quando chegou ao chão, ficou estendida no meio de uma avenida movimentada.
Atrapalhando o tráfego acabou sendo pisoteada.
E virou pó.
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