Apenas Aguenta


Compreendendo o comportamento humano, entendemos que existem três níveis de seleção por consequência, em que são formados as conduções comportamentais, sendo eles: filogenéticos, tratando-se de comportamento inatos (ações por reflexos); ontogenéticos, comportamentos aprendidos (como andar, falar etc) e cultural, comportamentos fundamentados na cultura que passam de geração em geração, sendo transformados em pequenos portes, mas sendo contínuos em sua origem. Um dos exemplos de comportamento cultural que já é estigmatizado na mente humana, é o conceito do feminino e algumas relações que fazem associação com este.

De modo geral, a mulher (seguindo o conceito base de - sujeito do sexo feminino), passou e passa por um constante paradigma de luta-transformação em toda a sociedade. A cultura que traz a imagem da mulher como ser frágil, dependente e que tem funções a praticar durante a vida, sem muitas outras opções, acabou se perdurando por longos anos, e formando hoje, o que conhecemos como preconceito e ausência de respeito. A mulher que foi feita a partir da costela do homem; que serve para dar seguimento a especie humana; que tem como obrigação, cuidar da casa, dos filhos e do marido, fazem parte da designação do conceito de mulher do século XVIII e XIX, que infelizmente hoje, ainda tem suas contribuições preconceituosas que acabam por fazer referência a memórias e comportamentos ultrapassados mas que seguem sendo praticados. 

Sendo válido afirmar que atualmente, este conceito já conseguiu algumas alterações, no que diz respeito a mulheres e autonomias, desde a legalização do uso de métodos contraceptivos, até a oficialização de mulheres em cargos grandes e de suma importância para a sociedade, já houveram uma série de mudanças nas formas de vivenciar a existência feminina, apesar da memória cultural de uma nação. Porém, nas eventualidades que ocorrem, como o fato de um momento de pandemia, alguns comportamentos acabam sofrendo uma regressão social, ainda com base no conceito de mulher.

Tarefas de casa, maternidade, matrimônio, educação, alimentação, atividades extracurriculares etc, são alguns dos vários exemplos de compromissos que fazem parte da vida feminina e com o impacto de uma pandemia, veio a tona de uma forma absoluta. Se quando criança, as meninas ajudavam as mães a limpar a casa e cozinhar, enquanto os meninos brincavam de bola ou de carrinho, hoje, vinte a trinta anos depois, essas mesmas crianças, são hoje nossos adultos, os quais, mulheres que trabalham e estudam, e que sabem realizar todas as atividades citadas, e homens que também trabalham e estudam, mas que não têm o hábito de realizar estás tarefas. Ocorrendo portanto, um momento de isolamento social, em que a família toda precisar se manter em casa, o que temos em geral? Mulheres realizando a maior parte das atividades, seja porque sabem, porque são habituadas, ou porque já faz parte da rotina. 

A exaustão emocional de carregar toda essa carga, funciona de forma relativa para cada mulher, e para cada família. A presença do estado de luto, seja por um fim de uma rotina de trabalho, ou por ter que abrir mão de algumas coisas (como lazer, esportes, trabalhos, estudos etc), é um período conturbado, que caso não for observado e dado a devida atenção, se torna um grande adoecimento psíquico, o qual infelizmente, tendemos a nos acostumar.

Saúde mental é, antes de qualquer outra coisa, um processo de respeito e auto cuidado. Entre vários conceitos que eu poderia trazer aqui, o principal deles é exatamente este, o fato de cada pessoa se colocar como fator primário de amor próprio, para então adaptar e amar o outro, seja este, quem for. 

Em temos de pandemia, o auto cuidado se tornou raro, mais do que já era, justamente porque temos a tendência a achar que estar em casa tem relação com perder tempo ou não fazer algo direito. A primeira coisa que já começa equivocada, é você não se sentir em Paz e completamente bem no seu ambiente de lar. Um ambiente adoecida de gera adoecimento nas pessoas que nele habita. Ou seja, um dos cuidados a você, é cuidar de você em casa. Adaptar-se ao bem estar próprio, é entender que não estamos prontos pra lidar com uma rotina instável, assim como não iremos conseguir dar conta de todas as atividades para que nada falhe. A falha é um processo necessário para que possamos entender que nada podemos fazer pelo mundo, se não começarmos a fazer por nós mesmos. 

Até hoje eu fico me questionando de onde as pessoas tiraram essa história se que não se deve chorar. O choro é uma das expressões mais honestas de si que conseguimos ter. Então, por que não? O excesso nos deixa em trapos, ressaltando sempre o que não temos e o que ainda não somos. E aí as pessoas me perguntam, como vou dar conta de tudo isso? Ora, não dê. Tire uma tarde pra você, veja um filme comendo pipoca e bebendo refrigerante com açúcar. Um banho mais demorado ou uma caixa de chocolate salva mais vidas que muitas buquês de flores caros que vendem por aí. Os passos para ser feliz no livro de auto ajuda não ajuda porque não temos o mesmo conceito de felicidade que todas as outras pessoas. Impor metas, é adiar a possibilidade de ser feliz com o que temos agora. E isso me parece injusto. 

Pedir ajuda não é pecado! Dividir tarefas, dormir a tarde, brincar com os filhos, pedir uma folga no trabalho, pintar o cabelo em casa, praticar exercícios físicos, testar uma receita nova ou ir dormir com a louça suja... Tá tudo bem. Podemos sobreviver a isso. Mas não podemos sobreviver ao desafeto, ao desprezo consigo mesmo, a ideia de que temos que cumprir tudo com base numa perfeição que nunca vem e que nunca vêem. Os transtornos mentais que parecem gravíssimos de longe, iniciam em pequenos estresses acumulados em rotinas mal experienciadas. E com esses sim, precisamos ter cuidado.

Muitas mulheres usaram cabelos pretos, para que hoje possamos ser loiras, ruivas etc.

Muitas mulheres passaram a vida toda casadas com homens asquerosos, para que hoje possamos estar na companhia de quem quisermos, inclusive na nossa propria companhia. 

Muitas mulheres viveram num mundo caladas, para que hoje possamos cantar alto no banheiro ou na janela de casa sem nenhum constrangimento.

Muitas mulheres foram escravizadas, violentadas e passaram a vida se apavorando, para que hoje possamos estar a frente do caos e ser um vulcão maior e melhor que ele. 

Muitas mulheres perderam a vida, para que eu pudesse estar aqui hoje, sendo entrevistada por outra mulher grandiosissima. 

Reconectar-se com o feminino que existe em cada uma de nós, é o compromisso mais digno que temos umas com as outras, seja durante uma pandemia, ou durante uma vida inteira de caos que ainda vamos precisar enfrentar com salto alto e de batom vermelho. 

Portanto deixo aqui meu respeito e meu respaldo a todas as mulheres que se sentem mulheres, agora não mais trazendo o conceito básico do sexo feminino, mas a relevância de todes que formam o conceito da sensação feminina.



Às minhas mulheres!


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