O povo é burro!


Era o auge dos anos 80. A militância pegando fogo e os jovens com as caras e os corpos pintados, acreditando fielmente que poderiam mudar o mundo é ser seu próprio mundo. 

Brasília era pequena pra eles. O Lago Paranoá mal os cabia. Suas roupas e cabelos bagunçados já davam indícios do porquê eles viviam. 

E era lindo ver tudo isso.

Marina é uma mulher linda, livre, leve, forte e só fala gritando. 

Cachorrinha é pequena, frágil, gigante e necessária.

Léo é firme, potente, sério e amante.

E Bia, é uma tentativa falha de libertação e culpa.

Bia é bela, traz todas as cores nela, é delicada.. não consegue enfrentar o mundo. 

Bia é jovem, tem todas as emoções com ela, é mansa.. não consegue sustentar o mundo.

Bia é filha. Mãe das expectativas da mãe dela. E por isso não tem seu próprio mundo.

Bia tem maestria em manter seu mundo mudo!

Mas um dia ela acordou diferente sentindo uma vontade fervente e ser displicente e amar loucamente de uma forma indecente.

Assim mesmo, sem respirar.

E aí ela decidiu corromper, se romper, se atrever e andar, voar, falar, gritar e se soltar das amarras da vida.

"Qualquer dia mãe, você vai ter uma surpresa", ela pensou. E assim fez.

Léo era sua segunda maior referência, e a primeira pessoa que ela mais amava no seu mundo mudo.

Então ela prometeu que nunca mais iria chorar. As expectativas de sua mãe entraram em ação. Ficou presa em fitas de laser vermelhas, sufocada por um cinto grosso e marrom, e ainda assim, se manteve de olhos abertos e arregalados repetindo que não iria chorar.

Ela não chorou.

Se sufocou. Não com o cinto, mas com as palavras que nunca disse.

Bia agora era idêntica ao seu mundo... 

Pálida. Mórbida. Muda.

Nunca saiu de Brasília.

Nunca viu os anos 90 chegar.

Mas até hoje, todo mundo imagina como Léo e Bia souberam amar.


Marina é a fé

Cachorrinha é a dispersão

Léo é a imaginação

Brasília é o mundo todo.


Bia é real!

A condução moral.

De um feio final.

Que morreu sem rima.





Texto baseado na obra de Léo e Bia de Oswaldo Montenegro.

No centro de um planalto vazio

Como se fosse em qualquer lugar

Como se a vida fosse um perigo

Como se houvesse faca no ar

Como se fosse urgente e preciso

Como é preciso desabafar

Qualquer maneira de amar varia

E Léo e Bia souberam amar

Como se não fosse tão longe

Brasília de Belém do Pará

Como castelos nascem dos sonhos

Pra no real, achar seu lugar

Como se faz com todo cuidado

A pipa que precisa voar

Cuidar de amor exige mestria

E Léo e Bia souberam amar

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