Carta ao futuro

Você que demora tanto a chegar, e chega para ser deixado. Quantas vezes te quis por perto, quantas outras te fiz incerto. Você chegou em inúmeras situações e eu não percebi, no mesmo instante que clamava por ti. Fazia-me de tola em não lhe planejar, mais tola ainda em achar que tu serias calculável, programável. Mal sabia eu que você era apenas mais uma parte de mim.
Porque teu perigo desperta tanta curiosidade? Porque tua indiferença contempla tanta monotonia? Eu achei que poderia viver sem pensar em você, mas entendi que somos o todo de um turbilhão de preenchimentos e faltas. Você aparece nas minhas inquietações, nos meus sonhos e principalmente, no ápice do meu desespero. Tenho pressa de chegar a você no mesmo instante que tenho pavor em reconhece-lo.
Desculpa as vezes que roubei sua cena, achando que deveria lhe cobrar presença. Desculpa as vezes que estive em você e não enxerguei que era a hora de lhe fazer presente. Escrevo-lhe esta carta, porque precisei lhe agradecer por todos os momentos que demorastes a chegar e me fez entender que já estavas por perto. E também para lhe dizer, que de você não espero nada, mas de nós, espero acolhimento, desabamento, e sobretudo, histórias que nós façam construir vínculos que perdurem por mais algumas horas.
Quanto a mim... Como um anjo caído, sentidos não tenho mais nenhum. Sem memórias e expectativas. Estimada de um passado, hoje pertencente aos três tempos e outros mais. Estou voltando para o futuro. Finalmente retornando a você!

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