Ócio
Gostaria de iniciar esta carta, agradecendo a
dedicação da turma à me colocar como foco ao longo desses 3 meses. Nossa árdua
realidade, está concentrada a não permitir olhares, mas somente visões. E
enxergar olhares entre 25 pessoas durante 3h semanais, é antes de mais nada, um
privilégio a mim e a vocês. Por esse motivo, decidi me colocar como verbo,
ainda que em sentimento, para enaltecer algumas posturas as quais aqui, tive o
prazer de experienciar.
Pensem em como pegar no sono; as vezes não é preciso está
deitado, mas é necessário está se sentindo confortável; não necessariamente na
superfície que lhe acomoda, mas no corpo que seus sentidos adormecem, ou vendo
por outro lado, despertam-se. Uma mistura de devagar com rápido, a ponto de não
lhe permitir recordar o processo de adormecimento. Vagarosamente
acontece. Suas pálpebras começam a piscar, vão fechando; e depois, você só
consegue saber que está acordando. Aliás, que acordou.
Pensem na tendência a sobreviver, nem por um momento sua
coragem vacila. Nem pelo mesmo momento, seu medo lhe aprisiona. Você reage.
Age. É como descer num escorregador alto numa velocidade sem fim; que vai te
levar a um chão que você sabe que existe, mas que é o que menos importa. Estas,
são posturas humanas, retraídas ou não, mas são passivas de mim. Sou o caminhar
descalço.
Jamais lhes passarei segurança, este não é o meu maior
trunfo, muito menos a garantia de um amanhã. Mas amanhã... amanhã você
acorda. E o processo de adormecimento não é possível lembrar. Assim como
não se pode concentrar-se nos pequenos e quase imperceptíveis movimentos das
pálpebras, ao adormecer. Percebam sobretudo, que saber de mim e em mim, é
entender que não sabe, que não funciona, não produz, não regride, não explica, nem
limita. Mas inutiliza o tão falado “invisível essencial”.
Eu jamais serei Sorte. Vazio nem Solidão. Também
não sou Deus. Tão pouco Amor. Muito menos o Tempo. Eu me faço nos
banquetes da Laís; no cotidiano do Fernando; no choro da Priscilla; na biodança
da Isabele; na infância da Kannanda; na sensibilidade do Bruno; nas leituras do
Pedro; na pressa de viver da Maria do Carmo; nos porquês da Meyrilane; na
escuta do Marlon; nos tapas na cara do Samuel e na gratidão do Clerton.
Todos vocês me conhecem! Ainda que a maior parte,
do que costumam chamar de tempo, prefiram achar que vivem sem mim. Aos que
acomodaram-se nesta grande ilusão, eu lhes digo, a necessidade de leveza
sensível que terás um dia, não é apenas o caminho mais curto a me sentir, mas o
único. E aos que se renderam a me ser, deixo-lhes apenas uma palavra: Decifra-me!
Atenciosamente,
Ócio.
Dedicado à disciplina de Ócio 2017.1
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