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Mostrando postagens de abril, 2017

Que horas você volta?

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Acordei hoje de um sonho bom. Veio de nós.  Eu tinha 7 anos; cabelos dourados com cachinhos nas pontas.  Moravamos na casa 37 da Travessa Doroteia Marinho.  Era um dia frio como quase todos os outros. Sábado no final da tarde, vou para a calçada da nossa casa, que tinha 4 degraus. Sento no primeiro deles e espero você e a noite chegar. Vocês chegam juntos. Os dois. Meus olhos brilham como se tivessem inundados de lágrimas. Mas eram brilhos! Nos abraçamos como se não nos víssemos a anos, mas você me deu bom dia no começo dessa manhã. Entramos em casa, você fala com a minha mãe, que lhe pergunta como foi o dia. Vocês dois se sentam na mesa e conversam sobre várias coisas, as quais eu não entendia nada. Devia ser essas fofocas de adultos. Você pega meu patins, e minha mãe meu casaco de frio. Saímos de casa, andamos alguns quarteirões e chegamos numa praça. Minha mãe senta num banco e fala pra gente ter cuidado. Você coloca os meus patins, me ensi...

A solidão com vista para o mar

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Entende-se 'dossiê' como um conjunto de documentos os quais abordam assuntos semelhantes para um objetivo de alcance linear. "Trazer em si a própria razão de seu fim". Talvez sem que nos déssemos conta, estamos falando e possivelmente concordando com realidades próximas as quais repudiamos com fervor no cotidiano. Somos aptos a se deixar envolver, mas nos treinamos a empatar envolvimentos. Partindo da minha opinião, que a falta de controle nos faz conhecer as razões imunes ao que é coagido e cobrado socialmente, por exemplo, as que me levam a está aqui escrevendo, são estas compreendidas como envolvimentos. E pensando na palavra 'envolver', pode-se cogitar, 'cobrir', 'se deixar levar', 'abraçar', 'confortar'. O envolvimento não condicionado e imune ao controle, é uma realidade que traz em si, a própria razão de seu fim. Assim como, é um risco de medo, desconfiança, testes e sobretudo, passivo de fuga.  Boa parte...

O quarto elemento

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Há tempos os três encontros não me eram citados. Há tempos três memórias não me encontravam. Há mais tempos, três marcas não ficavam em alto relevo. Citaram. Encontraram. Ficaram. 1. A segregação veio como uma bomba.  9 anos e meio. Ter que ficar presa no meio de dois grandes amores. Família as vezes vira disputa. Amor as vezes vira vergonha. Isso deixa a união deslocada.  E então, a forma como percebemos a sensibilidade começa a ser alterada. 2. A perda vem como uma explosão. 14 anos.  Ter que ficar presa na ausência de explicação. Esperança as vezes vira vazio. Tentativa as vezes vira tédio. Isso deixa a frieza ativa. E então, a forma como lidamos com a sensibilidade, continua a ser desconstruída. 3. A invasão vem como cinzas. 17 anos e meio. Ter que ficar presa no silêncio do desespero. Prazer as vezes vira medo. Relação as vezes vira horror. Isso deixa a frustração comum. E então, a maneira como acreditamos na sensi...

Quando bate o meu coração.

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Hoje, 27 de abril de 2017, fui bombardeada por pedidos semelhantes e intensos. De um lado, uma analisanda me pedindo ajuda, do outro, a minha melhor amiga. Como pude estar tão cega para a possibilidade dessa segunda garota está evidenciando que há algo de errado? Por que esperei o apelo direto para perceber? Na verdade, acredito que já havia percebido, mas não queria adentrar, pois acreditava que esses pedidos fossem artefatos para um construção textual mais intensa... Mas vi que não! É inconsciente, mas consciente. É possível? Sim! Parece que eles estão atravessados. É sobre a minha melhor amiga que estou falando. É sobre esse não-dito e o não-visto. É sobre estar no mundo, mas sem senti-lo. É sobre viver sem saber o que se está experienciando. Torna-se delicado pensar e criar algo a partir de situações não vivenciadas, mas olhe só, não estou dizendo que é impossível. Estou afirmando que é delicado! E, de fato, é! Diante de tantos atravessamentos cotidianos é necessário desac...

Evasão

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Nada ficou no lugar. Destoei. Cai. Suguei. Senti meu corpo barato, como um retrato velho que é olhado e esquecido numa sequência absurdamente veloz. Senti minhas verdades engolidas e digeridas como aquela comida que você faz descer sem mastigar e não fica nem dez minutos no estômago, nem mesmo altera sua fome ou a ausência dela. Senti meus valores molhados e frágeis como um papel que fica jogado no chão, enquanto a chuva molha e as pessoas pisam, sem sentir que tem uma superfície a mais. Senti meus planos dignos de nada, como quando uma criança de dois anos de idade que ainda nem fala direito, diz que quer ser astronauta, e as pessoas riem e acham bonito mas nunca levam a sério. Senti minha mente esvaziando como uma bexiga de aniversário que esqueceram de estourar. Senti minha positividade esperançosa escurecendo como quando o sol vai caindo e o céu vai ficando pálido, até só restarem luzes artificiais. Senti meus paraísos desmoronando como quando passamos horas construindo c...

Kali

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Dentre uma coleção de má efeitos conjurados em mim, o "Não" é o réu dito de maior poder.  O que vem do Não, não é bonito nem positivo. É escuro e assustador. Meu empecilho de retornar é aterrorizante.  Meu subsídio de perdoar é inconsequente. Minhas escolhas tênues trazem consigo karmas extremos.  Radicais, concretos e frios. O Não é uma ferramenta de domínio em defesa que toma e torna testável tudo que vier depois. Confronta e impede.  É triste, porém, vaidoso. É covarde, porém, ambicioso. É fraco, porém, sedutor. É sofrido, porém, orgulhoso. É decadente e impiedoso. Severo e negro. Um nada aprisiona, mas um Não, tira o fôlego. Traz sangue na alma inacessível. Traz solenidade na força do corpo atingido. Traz repulsa ao segurar minhas mãos. Traz desvios ao olhar os meus olhos. É contido de amor. E incontido de mágoa. Um Não é indolor e arrebatador. Fuck you. Me too. Demoníaco o poder do Não que não vira sim. Diabólic...

Hey you

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Surpreende-me a ausência de imaginação que uma sociedade massificada passou a assumir nas últimas décadas.  Assim como, a falta de interesse em desvelar um impulso ou se espantar com alguma beleza.  O consumo traz consigo vantagens e desvantagens, como todas as coisas desse mundo, uma de suas vantagens, é a geração de oportunidade trazida pela curiosidade, e uma de suas desvantagens, é a perca da emoção, que por sua vez, nos deixa carregados de heroína, e incapazes de sentir a espontaneidade que uma droga é capaz de trazer. Como disse genialmente, a banda Pink Floyd, na música. Wish you were here, "preferimos grandes papeis em celas, à um pequeno papel na guerra".  A maneira como nosso cotidiano se moldou e virou formato, leva-me muito proximamente ao conceito de dejá vú. Sensação de já ter visto, vivenciado, feito.  Tenho a impressão que hoje, estamos sempre beirando a perder a sensibilidade de enxergar e se assustar.  Como se tudo que vemos, já ...

Lar

Eis o melhor e o pior de mim O meu termômetro o meu quilate Vem, cara, me retrate Não é impossível Eu não sou difícil de ler Faça sua parte Eu sou daqui eu não sou de Marte Vem, cara, me repara Não vê, tá na cara, sou portabandeira de mim Só não se perca ao entrar No meu infinito particular Em alguns instantes Sou pequenina e também gigante Vem, cara, se declara O mundo é portátil Pra quem não tem nada a esconder Olha minha cara É só mistério, não tem segredo Vem cá, não tenha medo A água é potável Daqui você pode beber Só não se perca ao entrar No meu infinito particular Marisa Monte 

Atropelamento

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Por um segundo eu fechei os olhos e já deu, o sono me venceu. E nos meus sonhos tudo é colorido, eu vejo o céu, sei voar. Não sinto frio, tomo ar seguro. Tenho pensamentos, vou contar. Como se o tempo que por um segundo quisesse parar. Ninguém pisou no freio.  Muito menos desacelerou. Passou-se do radar. Foi multado. Perdeu a carteira provisória. Não ligou, nem se importou. Meus cabelos voavam pra fora da janela do carro, enquanto fazia um movimento de ondas com as mãos e olhava Ela, de olho em nós. 60, 80, 120, 160, 220km, ... Os quilômetros aumentavam de modo assustador.  Mas nós não nos assustavamos. A sensação era como se os pneus não tocassem mais o asfalto.  Velocidade máxima  Intensidade máxima Enquanto conduzíamos, nos olhávamos. Estávamos ali. Ainda ali.  Eu não escorri. Você não foi embora. Eu olho e você sorri. Não existe ninguém la fora. Estamos a todo vapor. Como as caldeiras de um navio que quer chegar ao seu ...

Noite dos Mascarados

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Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida Meus olhos andam cegos de te ver! Não és sequer razão de meu viver, Pois que tu és já toda a minha vida! Não vejo nada assim enlouquecida, Passo no mundo, meu Amor, a ler No misterioso livro do teu ser A mesma história tantas vezes lida! Tudo no mundo é frágil, tudo passa, Quando me dizem isto, toda a graça Duma boca divina fala em mim! E, olhos postos em ti, vivo de rastros: "Ah! Podem voar mundos, morrer astros, Que tu és como Deus: princípio e fim!" Quem diria o amor ser real em meio a tantas fantasias. Fantasias de Tristeza, policiais, anjos, Frida Kahlo; Amy Winehouse; homens com roupas de mulheres; chapéus, máscaras, drinks, cervejas e vagantes do dia e da noite. A diversão é sempre um bom investimento. Mas e decência... Há alguém decente por aqui? Quando procuramos por algo, estamos concentrados a procurar, e por esse motivo, não encontramos. Mas quando não se espera por nada, as máscaras ca...

É o que há

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Recriar é antes de mais nada, uma oportunidade de memorar algo portanto vivencial.  Entender isso, é perceber o quão inteligente é, enxergar o que há de bom numa vida, e fazer disso, o princípio de todos os feitos. Sentir-se apto a estar bem em meio ao hoje, é este grande feito. Recriando-se nas temporalidades livres, chegou à mim como uma brisa leve que vem para que algo fique parado, solto e frágil.  O que hoje é mais humilhante que se deixar ser frágil?  O que hoje é mais insustentável que ficar parado?  O que hoje é mais incompreendido que sentir-se solto?  Estamos num mundo de impossibilidades árduas, que nos preservam de gastos abstratos, mas que por outro lado, nos mantem em gastos concretos que estão tomando nossa vida e nos deixando incapacitados de ser inteligentes e aptos à ver o que de fato vem pra ficar. O vídeo traz simplicidade como base; idade como orgulho; calmaria como estado; coragem como condição; espaço como lar e luta como amor. ...

Segredos

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Ainda é segredo! Um dia eu escrevo Virá como "Atropelamento".

O poeta não morreu

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Hoje, dia 12 de abril de 1807, deparei-me com a condição de perplexidade. Bate na porta da minha sala e entra sem pedir licença, um rapaz que aparentava ter a minha idade ou um pouco mais, usando roupas sujas e rasgadas, me chama de senhora e, atropeladamente, começa a falar. Há algumas horas atrás, residia numa penitenciária, e por longos quatro anos e 11 meses, havia se mantido no interior de celas enferrujadas. Cumprindo pena de 8 anos, por bom comportamento, havia sido solto.  Ao sair do presídio, deslocou-se a pé até a CE 040, sendo levado à perimetral, onde se encontrava naquele momento. Pedia dinheiro para chegar a sua antiga casa.  Usuário de drogas. Tráfico de substâncias psicoativas. Furtos intermediários. Assassinato. Liberto/Fugitivo. Não se sabe. Mãe falecida. Pai viajante. Irmã menor de idade. Família, quem sabe. Enfim, eis aqui ele. Comigo.  Pegou na minha mão. Agradeceu. Prometeu voltar. Foi embora. Me assustou. Me emocio...

Bagunça

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Talvez eu queira ir à Lua com você! Talvez! É proporcionalmente estranho e incrível. Sensível a medo e prazer. Proximidade e distância. Dúvidas e certezas. É tudo contraditório e desafiador. É compromisso e corda bamba. Estar com você me confunde. Não estar com você me faz falta. Pensar em você é bonito. Esquecer de você tem sido improvável.  Sua recíproca me assusta. Sua segurança me conquista. Sua ausência me faz querer alguma coisa. Coisas novas. Coisas bonitas. Coisas nossas. Vi a gente no vidro daquela janela. E não lembro como foi antes. Amedronta chegar no depois. E agora? Talvez !

Sereia

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"Eu acho que qualquer pessoa que se apaixona é uma aberração. É uma coisa louca para fazer. É mais ou menos como uma forma de insanidade socialmente aceitável." Filme - Ela (Her). A forma que se leva algo nas costas, muitas vezes define uma postura. Saudável ou não. Passiva de uso de coletes, enquadramento de coluna, colchões apropriados, etc. As vezes nem precisa ser tão pesado, mas o tempo que carregamos também pode vir a ser causador desses mesmos problemas.  Mochilas. Bolsas. Livros. Aparelhos de tecnologias. Crianças.  Silêncios. Dores. Mágoas. Rancores. Medos. Palavras. Discursos. Remorsos. Pena. Inveja. Preconceitos. Viganças. Paixões. Estas dentre outras coisas que carregamos nas costas, acarretam valores, pesos e posteriormente, consequências gravíssimas. Compramos bolsas imaginárias e nelas colocamos tudo que não temos coragem de soltar. Mostrar ao mundo. Deixar levar. Carregamos durante meses e até anos. Por uma vida inteira. Até que num lindo ...

Poltronas premiadas

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Titãs há alguns anos atrás falava e cantava sobre o acaso.  Enquanto andássemos distraídos, seríamos surpreendidos. E aqui estou eu, sorteada discretamente no número 23/24. Como sempre encantada com a Serra imensa aos meus olhos. Um verde quente. Matas densas. Abismos estarrecedores. Ao som do mestre Bob Marley. E o ônibus para. Mais passageiros seguem viagem. E agora do meu lado tem uma companhia. Mirei no escuro um sorriso lindo. Viro para minha tão companheira janela e volto ao mestre. Um cheiro de cigarro me rende. Com o passar dos poucos segundos, já estamos conversando. Meus olhos não param de olhar os seus. Minha boca não para de quase ir de encontro a sua.  Ousadamente, beijei você! Inescrupulosamente, viramos um casal. Suas mãos encontram a maciez da minha pele. Nosso cheiro de perfume com ônibus agora já nem se adentra mais. Seus dedos me cercam.  Desconhecidamente, seus lábios ainda molhados de mim, vão ao encontro da Lua che...