Evasão


Nada ficou no lugar.
Destoei. Cai. Suguei.
Senti meu corpo barato, como um retrato velho que é olhado e esquecido numa sequência absurdamente veloz.
Senti minhas verdades engolidas e digeridas como aquela comida que você faz descer sem mastigar e não fica nem dez minutos no estômago, nem mesmo altera sua fome ou a ausência dela.
Senti meus valores molhados e frágeis como um papel que fica jogado no chão, enquanto a chuva molha e as pessoas pisam, sem sentir que tem uma superfície a mais.
Senti meus planos dignos de nada, como quando uma criança de dois anos de idade que ainda nem fala direito, diz que quer ser astronauta, e as pessoas riem e acham bonito mas nunca levam a sério.
Senti minha mente esvaziando como uma bexiga de aniversário que esqueceram de estourar.
Senti minha positividade esperançosa escurecendo como quando o sol vai caindo e o céu vai ficando pálido, até só restarem luzes artificiais.
Senti meus paraísos desmoronando como quando passamos horas construindo castelinhos de areia na praia, e uma criança passa por cima correndo e desmancha tudo.
Foram-se os aneis, e os dedos também.
Vão-se as atitudes, e próximas iniciativas também.
Senti invasão. Escorrimento. Vazamento.
Quem disse que 24h por dia é pouco tempo?
Tudo isso foi sensível a hoje! 
Mas por fim, tinha uma menina no supermercado...
Na fila do caixa com uma fatia de bolo de chocolate, um sachê e duas notas de 2 reais.
O valor da compra foi pouco mais de 6 reais. Logo, ela pediu cancelamento de um dos produtos.
Interferi e Paguei.
24h serão sempre suficientes para notar o que permanece quando quase tudo se vai.



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