O poeta não morreu

Hoje, dia 12 de abril de 1807, deparei-me com a condição de perplexidade.
Bate na porta da minha sala e entra sem pedir licença, um rapaz que aparentava ter a minha idade ou um pouco mais, usando roupas sujas e rasgadas, me chama de senhora e, atropeladamente, começa a falar.
Há algumas horas atrás, residia numa penitenciária, e por longos quatro anos e 11 meses, havia se mantido no interior de celas enferrujadas.
Cumprindo pena de 8 anos, por bom comportamento, havia sido solto. 
Ao sair do presídio, deslocou-se a pé até a CE 040, sendo levado à perimetral, onde se encontrava naquele momento.
Pedia dinheiro para chegar a sua antiga casa. 
Usuário de drogas.
Tráfico de substâncias psicoativas.
Furtos intermediários.
Assassinato.
Liberto/Fugitivo.
Não se sabe.
Mãe falecida. Pai viajante. Irmã menor de idade. Família, quem sabe.
Enfim, eis aqui ele. Comigo. 
Pegou na minha mão.
Agradeceu. Prometeu voltar. Foi embora.
Me assustou.
Me emocionou.
Me amedrontou.
Não julguei.
Não apontei.
Não duvidei.
.
Hoje, dia 12 de abril de 2017, deparei-me com a condição de perplexidade.
Bate na porta da minha sala e entra sem pedir licença, um rapaz que aparentava ter a minha idade ou um pouco mais, educado, falando em baixo tom, olhando fixamente nos meus olhos, sendo humilde, pedindo ajuda.
...
Enxergar o que pode melhorar é mais que uma tentativa, passa de uma oportunidade.
Dentre todos os erros, um acerto pode mudar o mundo sem apedrejamentos.
Em meio ao paisagens quadradas, é possível reconhecer uma mudança e ver o sol como de fato merece ser visto, afinal de contas, em algum lugar ele brilha para todos nós.

Relatos de uma jovem pré-terapeuta 210 anos antes do novo mundo.

Se você não pode ser forte, seja pelo menos humana!


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